sábado, 24 de janeiro de 2009

Beleza e Feiúra - Uma análise crítica sobre os opostos

Esta postagem é um pouco longa, mas vale a pena para quem se interessa pelo tema. Beleza e Feiúra dentro do campo das artes. Espero que seja proveitosa. Boa leitura!
P.S.: A foto do post é a capa do livro História da Feiúra, de Umberto Eco.

Conceitos de beleza foram formulados ainda na Grécia antiga onde Platão ligava o belo ao bem, ou seja, o que era belo era bom. Para os gregos a simetria era ponto forte em tal questão, tanto é que a geometria foi aplicada à arte. Tais conceitos gregos sobre a beleza persistem fortemente nos dias atuais. Padrões e estereótipos foram criados e a sociedade procura seguí-los rigorosamente, tentando fugir da versão contrária, a feiúra.
A feiúra é ignorada e vista como algo ruim e indesejável, inclusive dentro do campo das artes. Entretanto vale ressaltar uma questão: Quem dita a beleza e a feiúra dentro das artes? É interessante perceber as idiossincrasias presentes em tal levantamento. Os olhares e percepções sobre determinadas coisas são variáveis e relativos, existe sempre um histórico que leva uma pessoa julgar o que é belo ou não.
A versão do belo é variável. Dentro das artes o renascimento comandou por muito tempo a estética tida como sublime e elegante, onde os traços perfeitos, juntamente com contraste de luz e volume davam as obras vida própria e identidade social. Não se vê miséria em quadros renascentistas, isso já indica uma total inclinação burguesa direcionada para as artes, ou seja, o dito como belo é feito para pessoas com classe que sabem apreciar tais obras. Tudo o que foge desse padrão não é aceito e é avacalhado, logo é relacionado à feiúra.
Dentro da história surge também a arte barroca que traz ostentação ao ouro e a detalhes minuciosos e perfeitos, sempre buscando o equilíbrio entre a razão e o sentimento. Tudo rigorosamente moldado para satisfazer uma estética e conceitos da época.
Apenas nestes dois exemplos existe a total ligação entre belo e rico. Igualmente como sugeria Platão, o que é belo é bom. Mas se o que é belo é bom, logo o feio é ruim, e se o belo é rico, o feio é pobre? Não não. Não é bem assim, a beleza é relativa aos olhos de quem a vê, tudo passa por uma óptica de percepção e disposição a enxergar o novo e diferente. É uma questão de sair de um circulo vicioso dos padrões e da estilística predominante na cultura de massa na qual estamos inseridos. Foi isso que aconteceu na Semana de Arte Moderna.
Durante essa semana, em 1922, aqui no Brasil, foi justamente isso que aconteceu, uma fuga e uma nova abertura para novos estilos de arte e artistas. Uma grande representante dessa semana foi Anita Malfatti, que veio com uma proposta inovadora dentro do campo artístico. Chegou com uma arte na qual tinha aprendido na Europa, e ainda pouco conhecida no Brasil, o Futurismo. Logo as pessoas a censuraram e Anita recebeu duras criticas até mesmo do escritor Monteiro Lobato, que chegou a dizer que a única diferença da arte de Anita para as coisas que os loucos produziam, é que a deles era “arte sincera”. Atualmente Malfatti é respeitada e consagrada como uma grande pintora e suas obras apreciadas em todo mundo. O que era feiúra virou belo.
O modernismo demorou a ser aceito pela crítica justamente pela sua inovação e pelo fazer diferente em usar cores mais vivas, formas sem muita definição, contornos mais duros, tudo isso causou impacto e chocou, pois era totalmente contrário ao já imposto na época. Com o tempo, os críticos perceberam a força desse movimento e passaram a valorizar e apreciar tais obras.
Outra característica que não pode ser perdida de vista, quando se faz uma análise sobre a questão da beleza e da feiúra é a da linha cronológica que permeia essa história. Está mais do que evidente que estilos e gostos mudam a cada século e até mesmo em períodos muito curtos. Ditar o que é belo, é, em muitos casos, limitar o tempo estético de tal objeto. Hoje o que é bonito, pode não ser amanhã. Isso ocorre muito em relação à moda, que está sempre em transição, tornando dessa maneira a beleza, muito flexível e mutável. Entretanto existe o outro lado da moeda, onde se consagram e se firmam os cânones. Tais cânones se destacam pela sua vigorosidade e influência durante o passar do tempo. Nas artes, várias pessoas se firmaram a tal ponto, Portinari, Leonardo Da Vinte, Picasso entre muitos outros. Dentro da história das artes tais nomes são referências de beleza e de qualidade estética, pois suas composições marcaram época e se popularizaram de tal forma que todos os dão créditos de beleza.
Encurralada entre tantos nomes de peso está a feiúra que é pouco falada, a não ser quando recebe alguma crítica. Os sensos estéticos e estilísticos apenas ressaltam uma beleza almejada e ostentada como algo único e valoroso e deixa de lado o contraste, que fica como coadjuvante para o “belo” brilhar. Edson Teixeira publicou em seu blog um texto em que disserta sobre a beleza e a feiúra e lá ele escreve: “A feiúra inexiste, não passa de um conceito inventado por quem não tinha imaginação. Ou tinha em demasia”. Isso faz total sentido quando percebemos as várias etnias, credos, crenças, movimentos artísticos, culturas, etc. Os gostos das pessoas são variados e cada um se identifica com algo que chame a atenção pelos mais diversos motivos, tudo é uma questão de olhar.
A beleza, esteticamente falando, também pode ser contraditória. Ela pode ser levada muito mais por tendências ou modismo, do que por próprios conceitos. Ou seja, muitas coisas fogem do comum ou de um padrão já conservador e é tido como belo, por estarem em alta, o que de fato não o caracteriza como feio, e sim novo. É o caso do dadaísmo, gênero artístico que vê beleza nas mais simples e inusitadas coisas. Esse estilo artístico se faz belo pelo inusitado e ao mesmo tempo se torna feio pelo mesmo motivo, isso vai depender da percepção particular das pessoas. E é desse modo que a arte, em todas as suas formas, é ditada, pela individualização dos gostos e pelo conjunto de características que a cerca.
Um paradoxo existente entre a beleza e a feiúra pode ser percebido diariamente. Sempre existe algo que se sobrepõe a outra coisa, que chamam mais ou menos atenção por questões de preferências pessoais e de estilos. Genericamente falando, as pessoas tendem a se concentrar no belo, em tentar desvendar os mistérios, os truques, em fazer a apreciação do que, aos olhos delas, é tido como bonito. Mas muitas vezes estas mesmas pessoas não percebem que o bizarro, o inusitado e tido como “feio” lhes chamam igualmente a atenção. As pessoas querem ver e analisar da mesma forma, claro que com um pensamento diferente, mas é interessante perceber, a magia que esses dois opostos possuem. Ambos nos atrai de alguma maneira, seja pra olhar e desejar ou para olhar e sentir repulsa; os dois nos despertam curiosidade.
Não dá para definir cientificamente o que seria belo ou feio, não existe fórmula para caracterizar tais estilos. Desmistificar estes conceitos de belo e feio é uma tarefa árdua, diria praticamente impossível, mas ter uma noção do relativismo existente sobre esses dois adjetivos é fundamental para entender e analisar melhor algo antes de seguir apenas uma opinião critica. Saber observar e fazer questionamentos em cima de uma obra é importante para treinar o nosso senso estético, o por que eu gostei ou não de tal pintura, livro, musical, ou seja, lá o que for. Se alto criticar é indispensável também, afinal você não espera estar sempre belo para tudo e todos. Existem momentos que você se transfigurará em beleza para muitos, e em outros momentos você será o retrato da feiúra. Na arte é a mesma coisa, as mais duras críticas podem ser revistas e se tornarem elogios posteriormente, isso vai depender muito da expressividade perante o público que tais obras vão despertar.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

"Beba a vodka enquanto o caviar ainda esta em sua boca"




Essa é uma das frases que me chamaram atenção no novo filme estrelado pelo ator Brad Pitt; "O Curioso Caso de Benjamin Button".

O filme é um longa baseado no conto escrito pelo escritor americano F. Scott Fitzgerald, que narra a história de Benjamin Button, um homem que nasce com 80 anos e na medida que os anos vão passando, começa a rejuvenescer. Benjamin aos 50 anos de vida se apaixona por uma mulher bem mais jovem que ele, uma criança na verdade, interpretada por Cate Blanchett na fase adulta.

A partir daí, o casal viverá um dilema, pois ele ficará mais moço e ela, mais velha. Entretanto a narrativa do filme não se prende exclusivamente ao romance, é mostrada o curso de vida de Benjamin, como a perda de sua virgindade, seu primeiro emprego, entre outras.

O filme é uma história fantástica e muito bem produzida. Desde o roteiro assim como a arte. Mesmo relatando um drama, o filme conseguiu mesclar um tom de humor que deixa a narrativa mais leve, tendo em vista que o filme é bem longo.

O que achei curioso é o fato de ninguém (dentro da história) achar estranho o processo inverso que acontece com Benjamin. Ao longo dos anos ele vai ficando mais jovem, até atingir a fase infantil.

O romance que se forma é surpreendedor, pois sempre se espera que o casal fique junto, mas em um determinado momento da trama, essa imagem é quebrada e então acredita-se que eles não vão concretizar o amor da infância....mas calma...o filme tem outras sacadas e durante a história eles voltam a se encontrar e vivem um caso de amor e dilema. Simplesmente instigante e emotivo.

Além de tudo, o filme é uma bela lição de vida, uma forma de ver que mesmo com as diferenças a felicidade pode ser alcançada e que o preconceito pode ser vencido com apenas um pouco de esforço e boa vontade.

O longa tem a produção de Kathleen Kennedy e Frank Marshall, responsáveis pela parceria com Steven Spielberg em vários sucessos da telona. Assina a produção também, o produtor Ceán Chaffin. A direção fica por conta de David Fincher.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Publicidade radical







Publicidade radical. Essa é a expressão que melhor cabe ao trabalho publicitário que Oliviero Toscani desenvolveu para a marca italiana Benetton. De forma polêmica e chocante Toscani rompeu com o senso comum da publicidade moderna. Trabalhando sempre com os temas: sexo, religião, raça, vida e morte, este italiano quebrou paradigmas com uma formula simples, a imagem.

O senso critico e audacioso de Oliviero é fantástico e inovador no mundo publicitário. Suas campanhas, reconhecidas mundialmente, ainda hoje chamam atenção pelo arrojo moral e desafiador que propõe a sociedade.

Um de seus últimos trabalhos foi uma campanha contra a anorexia que produziu para a marca "No-l-ita", em que mostra a foto de uma modelo extremamente magra. Como não poderia deixar de acontecer a imagem choca e traz questionamento para quem a vê.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Foto realidade

Foto: Sebastião Salgado


Dedico este primeiro post ao fotografo Sebastião Salgado, o qual eu admiro pela forma peculiar e realista na qual ele trabalha sua composição. Sempre com fotos em P&B, Salgado mostra a realidade das classes excluídas e retrata de uma forma artística, sem perder o eixo crítico, as mais dolorosas e dramáticas situações de pessoas pelo mundo a fora.


Apoiado em uma arte realista, Sebastião Salgado é objetivo no que transmite em suas fotografias. Transforma a realidade em uma critica social e ao mesmo tempo valoriza o senso estético de cada foto que produz. Tal característica rendeu a Salgado reconhecimento mundial e o transformou em um dos mais respeitados fotojornalistas da atualidade.


Minuncioso e sóbrio, suas fotografias marcam pela força e expressividade que desmonstram. Traduz de forma nítida a desigualdade nas cores que melhor lhe cabem. Preto e Branco.