domingo, 15 de março de 2009

Resenha do livro “As Meninas” de Lygia Fagundes Telles




No livro de Lygia Fagundes Telles, “As Meninas”, a autora traça o perfil e conta a história de três moças: Lorena Vaz Leme, Lia de Melo Schultz e Ana Clara. As três garotas, que são discussão central do livro, vivem no pensionato “Nossa Senhora de Fátima” e, apesar das diferenças, são boas amigas. Lorena é uma moça rica e sonhadora, conhecedora de bons livros, música e arte. É sempre muito solícita com as amigas a passa toda a narrativa a sonhar com um telefonema do doutor Marcus Nemesius, homem mais velhos e casado, porém esse telefonema nunca acontece. Lia, conhecida também como “Lião”, é o oposto de Lorena. Ela é forte e determinada, possui idéias revolucionários e almeja dias melhores para seu país (Brasil). Já Ana Clara é uma moça com menos condições que as outras amigas; filha de pai desconhecido e mãe prostituta, sempre sofreu muito na vida. Esta noiva de um médico rico, na qual enxerga a solução de seus problemas em relação a dinheiro, mas paralelamente a esse noivado, Ana mantém um romance secreto com Max, o homem que ela realmente ama e por causa dele acaba se envolvendo com drogas e se torna uma dependente. Ana estuda Psicologia e sonha em ter seu próprio consultório para atender a burguesia da cidade.
Estes são alguns dos traços mais fortes presentes nas três personagens. No entanto, o que o livro tem de mais intrigante é a forma narrativa com a qual Lygia trabalha. Num primeiro momento, o livro é bastante complicado e o leitor se sente um pouco perdido sem saber se o que está lendo está tendo algum sentido; mas esse susto é apenas inicial. A partir do segundo e terceiros capítulos, em que ele passa a entender um pouco mais do perfil psicológico e do universo paralelo de cada personagem, o enredo vai ficando atraente e instigante.
Os diálogos existentes na trama não são apenas diálogos comuns e verbais. Existe um tipo de diálogo interno de cada personagem, uma busca intensa às suas memórias pessoais, um reavivamento constante de seus desejos, sonhos e vontades.
Outro fato marcante e indiscutível no livro “As Meninas” é a forma inteligente por meio da qual a autora fala sobre a época em que se vivenciava a ditadura de 64. Lygia expõe em cada personagem um seguimento da época. Lorena representa a burguesia alienada que vive apenas no seu mundo particular e está alheia a todos os movimentos que estão à sua volta. Lia, ao contrário da amiga, é engajada politicamente e luta por seus ideais. Representa a classe média crítica e não conformista, à frente de esquerda e se preocupa em arrecadar fundos para o “aparelho”, termo usado para designar o grupo de resistÊncia à ditadura militar. E Ana Clara é vista como o proletariado passivo, que ocupa seu tempo em procurar uma solução para se sentir um pouco melhor e mais aceita, dentro de toda aquela confusão, e busca nas drogas e no sexo a fuga da realidade presente.Um ponto interessante na história é o fato de as três amigas, mesmo com todas as diferenças em relação a ideais, modos de encarar a vida, mesmo com cada uma no final tendo tomado um rumo diferente e se separado, apesar de tudo isso, as meninas tinham algo em comum, que era o sonhar. Lorena com seu sonho utópico, Lia com seu sonho idealista e Ana com seu sonho de crescimento pessoal. Talvez tenha sido por esse vínculo sutil que essas moças eram tão amigas e foram personagens dessa narrativa tão inteligente de se ler.

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